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Rica, diversa e desconhecida. Até agora

Diagnóstico biológico mostra a grande biodiversidade da maior UC em florestas tropicais do mundo: a Estação Ecológica do Grão Pará

Localizada no Norte do Brasil, na região conhecida como Calha Norte, a Unidade de Conservação Estação Ecológica do Grão Pará, ou simplesmente Esec do Grão Pará, era uma localidade ainda desconhecida pela ciência até pouco tempo atrás, pois foi apenas em 2008 que se iniciaram as expedições biológicas na região. Essas expedições agora baseiam o diagnóstico biológico da Esec, e apontam a alta biodiversidade da Unidade, sua relevância para a conservação ambiental e dão suporte científico para o Plano de Manejo da Estação.

Alguns dos fatores que influenciaram nesse “desconhecimento” da área eram a distância em relação às cidades próximas, a sua dimensão e o seu terreno acidentado, que dificultavam as expedições de pesquisadores para região. “A Esec do Grão Pará nunca havia sido estudada antes, muito devido a logística que uma expedição demandaria para investigar a área, que ainda é uma região de difícil acesso” destaca o ornitólogo do Museu Paraense Emílio Goeldi, Alexandre Aleixo, coordenador das três expedições que geraram o diagnostico da Esec.

As viagens aconteceram em 2008 e 2009, duraram cerca de 17 dias cada uma, e tiveram a participação de pesquisadores e ajudantes de todas as instituições envolvidas no estudo da área: a Universidade Federal do Pará, a Conservação Internacional e a Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Pará (Sema), além do Museu Goeldi. A equipe de cerca de 30 pessoas realizou Avaliações Ecológicas Rápidas (AER) que abrangeram as áreas de ictiologia (peixes), herpetologia (repteis e anfíbios), ornitologia (aves), mastozoologia (mamíferos) e botânica.


ALTA BIODIVERSIDADE
Essas avaliações confirmaram a importância das unidades de conservação em fase de consolidação na porção mais preservada do estado do Pará, registrando 689 espécies animais e 778 de espécies vegetais, abrangendo grupos de grande interesse para indústria, a pesquisa científica e a conservação ambiental, já que também estão incluídas espécies em risco de extinção nessa lista. “Por nunca termos ido lá, não sabíamos o quanto a pesquisa ia render e agora vemos o quanto foram produtivas as expedições. Foi um marco divisório no conhecimento da biodiversidade da Calha Norte”, conta o ornitólogo do Museu Goeldi.

Os altos índices de biodiversidade na Estação Ecológica podem ser explicados tanto pela sua dimensão, como por sua variabilidade de ambientes, pois cada um dos três pontos pesquisados nas expedições – norte, centro e sul – possui uma característica distinta e, portanto, gera registros diferenciados de espécies. A parte norte da Esec, por exemplo, se diferencia por sua altitude média, entre 300 e 400m, podendo alcançar 900m em alguns pontos, enquanto que a porção central se destaca pela vegetação do tipo savana amazônica.

“Com as expedições, nós pudemos conhecer o que ocorre na Esec em termos de espécies, refinar o nosso conhecimento sobre a biodiversidade na Amazônia, e o resultado disso foram os registros de novas espécies ainda não descritas, extensões da distribuição de várias espécies já conhecidas e a reunião de um material zoológico e botânico inéditos” ressalta Alexandre Aleixo, lembrando que esses dados serão utilizados para elaboração do Plano de Manejo da Esec a ser implantado pelo governo do estado do Pará.


PARA PRESERVAR
A equipe pesquisadora encontrou durante os estudos na área 143 espécies de peixes, 355 de aves, 62 de anfíbios, 68 de répteis e 61 de mamíferos. Do grupo de aves, 70 espécies observadas na Estação Ecológica podem ser consideradas de especial interesse para conservação, ou por serem endêmicas (só existem na região estudada) ou raras, com distribuições locais na Amazônia.

Os mamíferos, por sua vez, apresentaram 21 espécies consideradas de especial interesse para a conservação devido ao seu status de endêmicas, ameaçadas de extinção, ou ainda por não terem sido descritas pela ciência. Já em relação aos peixes, foram coletados 3732 indivíduos (depositados hoje na coleção do Museu Goeldi), mas o material necessita ainda de maior atenção quanto à taxonomia já que existem evidências de novas espécies.

Do grupo da herpetofauna, répteis e anfíbios, se destacam os registros de possíveis novas espécies, como o anfíbio Microhylidae do gênero Chiasmocleis, a ampliação dos registros de espécies já conhecidas, mas até então não observadas na região, e as espécies registradas pela primeira vez no Brasil, como é o caso do sapo Leptodactylus bolivianus. Vale lembrar, no entanto, que esse padrão de novas descobertas é comum em todos os grupos estudados.


BEM CONSERVADA
Já os botânicos, registraram 125 espécies de pteridófitas (samambaias e avencas) e 653 espécies de fanerógamas (árvores com flores), dentre elas estavam cinco espécies ameaçadas de extinção no Pará. Esse elevado número de registros, 778 no total, é superior ao registrado em vários outras localidades Amazônicas, o que indica um bom estado de conservação da área – uma constatação reforçada pelos registros da fauna local.

A presença de tantas espécies representativas, seja na fauna ou na flora da Esec, mostra que na unidade essas espécies se encontram protegidas das ameaças de atividades predatórias, como a extração de madeira e a caça profissional ilegal. Segundo Alexandre Aleixo, a região foi encontrada praticamente em estagio primitivo de conservação. “Não podíamos ter encontrado um lugar mais preservado”, lembra.

A ocorrência de espécies valiosas, reforça a importância conservacionista da Estação Ecológica do Grão Pará, que no entanto pode ser afetada na sua porção sul, onde grandes reservas de bauxitas foram descobertas antes da demarcação da unidade.


INSUBSTITUÍVEL
Foi justamente a porção sul da Estação que registrou maior riqueza de espécies para a maior parte dos grupos amostrados, e de acordo com Alexandre Aleixo, é um ambiente único, com espécies únicas. “O diagnóstico revelou que esse é um local fundamental para entender a distribuição da biodiversidade da região, principalmente, por causa da sua riqueza e espécies únicas, atestando a importância da região para a conservação dessas espécies” afirma o ornitólogo.

Em relação ás aves, por exemplo, existem algumas que foram observadas apenas nessa área em toda a região da Calha Norte, além de registros de aves em extinção, como o cacaué (Aratinga pintoi, Psittacidae). Os anfíbios também tiveram maior aparição nessa área, assim como os peixes. E quanto aos mamíferos, a área registrou mais de um terço do total de espécies registradas em toda a Estação, e os dados ainda apontam a necessidade de mais estudos, evidenciando a possibilidade de mais registros.

Diante desses resultados, a porção sul da Esec pode ser considerada um sítio adequado para estudos futuros e monitoramento de várias espécies ameaçadas de extinção, além de ser uma peça chave na preservação da área. “É um local insubstituível. Não se pode descartá-lo, ou dizer que não é importante, nem ‘trocá-lo’ por outro local. Essa é uma área que deve ser preservada ao máximo”, destaca Alexandre Aleixo.



Esec Grão Pará: um mosaico de ambientes

Criada pelo governo do Pará em dezembro de 2006 como parte de um grande mosaico de Unidades de Conservação no trecho paraense da calha norte do Rio Amazonas, a área da Esec Grão-Pará está 100% inserida na zona destinada à criação de unidades de conservação no estado do Pará de acordo com as diretrizes do Macrozoneamento Ecológico-Econômico do estado (lei estadual nº 6.745/05).

O seu relevo é acidentado, com a presença de serras, vales e planícies, e os seus rios são encachoeirados, devido ao relevo inconstante, o que também dificulta o acesso à região. Já a sua vegetação também é bastante diversa, abrangendo desde a mata fechada típica da Floresta Amazônica até vegetações mais rasteiras, próximas ao cerrado.

Detentora de 4.245.819 de hectares (a maior Unidade de Conservação em florestas tropicais do mundo), a Esec abrange os municípios paraenses de Oriximiná, Óbidos, Alenquer e Monte Alegre e ainda incorpora porções importantes das bacias hidrográficas dos rios Cuminapanema, Curuá, Maicuru, Mapuera, Trombetas e Paru D'Este. Além disso, a Esec também faz fronteira com terras indígenas e outras unidades de conservação que, juntas, integram o maior corredor de unidades de conservação de florestas tropicais do mundo.

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